quarta-feira, 28 de maio de 2008

“Salva-te, se queres conservar tua vida.
Não olhe para trás, e não te detenhas
em parte alguma da planície”
(Gn 19,17)

Não te detenhas!


Essa ordem que Deus deu a Lot é também uma ordem que Ele, continuamente, dá a cada um de nós. Não se deter na planície significa não se agarrar ás coisas pequenas, não perder tempo com coisas insignificantes, não se deixar abater pelos problemas e pelas dificuldades. Infelizmente, muitas e muitas vezes, fazemos uma tempestade em copo d’água, e, às vezes, o copo está só pela metade.
Por causa do pecado, tendemos a ficar parados nas planícies da vida. Na hora da enchente, porém, a planície é o primeiro lugar que se alaga! Com isso, não caminhamos em direção aos grandes objetivos da vida. Quando ficamos presos às pequenas coisas do cotidiano, não progredimos na vida.
Deter-se na planície é permanecer cultivando pequenas mágoas e ressentimentos. O próprio texto bíblico nos ensina um grande segredo para a felicidade: não olhar para trás. O passado, por melhor ou pior que tenha sido, não volta. Como a planície que se alaga, nossa vida também acaba sendo alagada pelos problemas, quando damos a eles importância maior do que realmente têm.
Todo rio nasce com uma meta única: chegar ao mar. Mas, quando o rio pára de correr em direção ao mar e começa a voltar atrás, ele causa alagamento e enchentes. Rio parado é sinal de estragos nos campos e nas cidades. O mesmo acontece conosco. Por isso, além de não olhar para trás, é preciso não se deter, não parar, não estacionar. A vida é dinâmica. O Espírito Santo é movimento. O ser humano é inacabado. O mundo não está completo e pronto. Deus nos confiou seu aperfeiçoamento. Triste de quem acha que já atingiu sua meta.
A moderna ciência da administração de empresas hoje sabe que uma das causas que pode provocar a falência de uma organização é o êxito. A empresa começa a falir quando se acha a melhor, quando acredita já ter atingido seus objetivos. A idéia do êxito causa acomodação. E a acomodação acaba com empresas, casamentos e comunidades.
Outro grande perigo é a preguiça, que gera a falta de garra. No mundo das coisas fáceis, criamos pessoas enfraquecidas, sem determinação, sem coragem para lutar, sem garra e sem meta na vida. As pessoas procuram emprego mas não querem trabalho. Quanto mais fácil, melhor. Só que isso acaba transformando o ser humano num fantoche, sem vontade, sem espírito de luta. Em pouco tempo quem se deixa levar pela lei do menor esforço acabará se decepcionando, pois a vida é dura, principalmente, com quem é mole. Daí surgem as pessoas que só sabem reclamar da vida: são amargas, sempre pessimistas, saudosas de uma passado que não poderá voltar.
A vida é como andar de bicicleta: se parar, cai, pois o equilíbrio vem do pedalar. O mesmo ocorre com os aviões. Se param, caem. O que sustenta seu equilíbrio é o movimento dos motores.
É bom observar que a bicicleta tem duas rodas e um guidão, ou seja, o equilíbrio depende também de uma direção bem determinada. Quem não tem uma meta, facilmente se cansa. É preciso saber para onde ir e ser persistente nessa direção.
Quem estaciona na planície, além de ver apenas o lado negativo de tudo, enxerga com lente de aumento. Já que tem outros horizontes, só vê o obstáculo e, como se aproxima muito dele, acaba se sentindo pequeno demais para vencê-lo. Essa atitude é alimentada pela acomodação, que muitas vezes é vista como um valor. Pessoa acomodada é considerada uma pessoa boa, que tudo aceita. É uma coitada! Não tem boca pra nada, Isso não é qualidade. Jesus disse que o Reino dos céus é dos violentos. Creio que seja este o grande sentido dessa revolucionaria palavra de Jesus: é preciso lutar, com garra para conquistar o Reino.
O Reino deve ser nossa grande meta. Quem não tem uma meta definida pára em qualquer obstáculo. Quem não sabe para onde vai, e o porquê de sua caminhada, não chega a lugar nenhum. O mesmo ocorre com quem persegue duas metas ao mesmo tempo: não atingirá uma e a outra se perderá.
A acomodação gera isolamento, O acomodado não consegue viver em comunidade, ele vive na comodidade. Cada um em seu cômodo. Ninguém invade o espaço do outro. Essa é a política de boa vizinhança, que gera a morte dos ideais. Quem não tem ideal deixa-se levar por qualquer coisa. È folha agitada pelo vento.
Essa política de boa vizinhança, gerada pela comodidade, gesta pessoas fechadas em si mesmas. Com medo de incomodar, a pessoa não supera os problemas. Ora, sabemos que não existe relacionamento sem conflitos. Isso é impossível. É preciso superar os conflitos, achar soluções por meio do diálogo, da partilha. Um precisa ceder. Ninguém pode se considerar o dono da verdade. Afinal de contas, a verdade nunca é relativa e nem subjetiva. Não existe a “minha verdade”.
Nessa política, um acaba protegendo o erro dos outros. Só que a vida é dinâmica e ninguém viverá o tempo todo fechado em seu mundinho. As limitações pessoais, cedo ou tarde, virão à tona. E quem não aprendeu a superar sues problemas não conseguirá viver em sociedade, não conseguirá manter um bom emprego, não saberá partilhar sua vida e sua fé numa comunidade.
A acomodação é uma das conquistas do encardido. Seu grande projeto é fazer com que o ser humano se pense pequeno, fraco, dependente de coisas e de pessoas, de cargos e de posições sociais.
O ser humano é chamado a ser grande. No projeto de Deus, o ser humano foi criado para ser o senhor da natureza e de todas as coisas desse mundo. Deus nos criou parceiros, Mas é preciso se convencer da necessidade de multiplicar talentos. Aliás, esse é o grande verbo bíblico: multiplicar. È a conta que Deus melhor sabe fazer. Ele sempre une nossos esforços com suas graças. Quando a graça de Deus se encontra com um espírito puro e batalhador, os milagres acontecem.


* Fonte: Livro: Buscai as Coisas do Alto – Pe. Léo


“É preciso ter uma meta, e a nossa meta é muito grande. Quem se acostuma com coisa pequena não pode ir para o céu. O céu é para que sonha grande, pensa grande, ama grande e tem coragem de viver pequeno. Isso é o céu”

sexta-feira, 23 de maio de 2008

"...feito uma aguardente que não sacia..."

"O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite
O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo"

Chico Buarque, O que será (À flor da pele)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

"O mundo é um palco" -- W. Shakespeare


Enfim, Teatro de verdade!


Não tem o que dizer: eu estava maravilhada. Feito criança frente à sua primeira bicicleta.
E a questão não é fama ou status. Falo sobre o conjunto da obra. Desde o Texto até a recepção na porta do Teatro. Perfeito...

Tendo em vista minha vasta experiência como platéia nos festivais daqui da cidade, o que senti no último sábado, como platéia no SescSp - Consolação não se compara, nem de longe...

Pena nosso país investir tão pouco em Teatro. Pena as pessoas não estarem preparadas para serem platéias de grandes espetáculos. Fazer teatro no Brasil é difícil. muito difícil. Palavra de artista!! rsrs...

Fica aqui, todo meu aplauso ao Grupo Macunaíma e seu diretor, Antunes Filho. Pela montagem primorosa da Obra de Nelson Rodrigues, a peça Senhora dos Afogados. E por "Prêt-à-Porter 9", sem dúvida, um ótimo espetáculo!

"Eu quero mais, não apenas esse amor fugaz"

Como entender a força que mantém acesa essa chama?
Ora, ora. Sejamos práticos: não há reciprocidade, nem indício algum... Nada de visitas inesperadas, e-mails, mensagens no meio da madrugada. Sem esperança de evolução.
Então por quê?
Me dói sua presença "perto-distante". Dói ainda mais quando estamos longe. Dói o fato de querermos coisas completamente diferentes: um o amor, outro a amizade.
Mas enquanto olho pra você, você olha na direção oposta. E quando me olhas é sempre aquele olhar. Firme, pé no chão. Sabe e finge que não. E nega. Recusa. Me põe no meu lugar.
E te olhar nos olhos me instiga a rasgar-me inteira. Para que você veja quem eu realmente sou: não só a garota porra-louca, mas uma mulher que sabe o que quer. Não a amiga, mas uma amante em potencial. Mas, perto de você eu me perco toda, meto os pés pelas mãos. E volto a ser aquela que todos conhecem, ou pensam conhecer. Não faz diferença.
Meu orgulho me obriga a ser "senhora de mim" o tempo todo. Por isso a raiva de ser tão vulnerável diante do que sinto por você.
Por isso que eu digo que existem coisas que não deveriam ser ditas... Apesar de ser tão reservada, quando este é o assunto; sou extremamente clara nas entrelinhas. (Adoro elas!) cada frase, cada canção... Tudo friamente calculado... Cada qual com seu significado, gritando em meu lugar... Porque, vamos combinar né? Paciência é um dom que eu não possuo. Definitivamente! rs... Cansei de ficar sentada naquele banco esperando o entardecer... Há de chegar o dia em que me deixarei levar pela vontade que me consome de afagar-lhe o rosto, os cabelos a nuca... De perder a compostura, as estribeiras e foda-se essa "amizade" que renego tanto!!! E fazer-te sentir o mesmo. Porque a volúpia seria irresistível...
Maldita posturazinha de secretária. Maldita ética. Maldito bom-senso... Por fim, continuo contida, comedida, segurando até o âmago! E usando palavras alheias, que me ajudam a "palavrear"...

"E se o desejo é uma desordem
Um "mãos ao alto, fique onde está!"
Sem alarde me recolho,
Escolho me calar

E nada vai desmerecer tudo que ainda somos..."

(Jay Vaquer, A falta que a falta faz)

Por mim, 08,09,16-05-2008.