"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero. (...)
Como um bálsamo que não consola senão pela idéia de que é um bálsamo,
A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco, monótona, cai. (...)
Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.(...)
Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo. (...)
Sentir tudo de todas as maneiras,
Ter todas as opiniões,
Ser sincero contradizendo-se a cada minuto,
Desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito,
E amar as coisas como Deus. (...)
E sempre que estou pensando numa coisa, estou pensando noutra. (...)
Meu ser elástico, mola, agulha, trepidação ... "
(Passagem das Horas, Fernando Pessoa - poesia de Álvaro de Campos)
2 comentários:
Amore de mi vida! Estou vulneravél, sensivel, chorona e estressadissima!
Você sabe, estamos juntas 8H por dia e é só no sopetão! rs
Acho que minha censeira me fez desmoronar ontem!
Obrigada pelo apoio, pela amizade, pela calma, pela preocupação.
Também estarei aqui, sempre. De madrugada, de manhã, na hora do almoço, quando você precisar!
Amo-te mais que bolo gelado de brigadeiro!
*ERRATA:
censeira = canseira
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